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Histórias

A Lenda de São Nicolau (Santa Claus)

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Bodo Bleinagel
(Trad. Érika Reimann)

Que seria da época do Advento sem São Nicolau?
De ano para ano, no mundo inteiro, ele volta às casas onde há crianças. Poucos o vêem nessa época. Mas ele está por aí – quem mais seria capaz de encher milhares e milhares de botas, tigelas e meias que aguardam sua passagem embaixo das camas, nos peitoris das janelas ou diante das portas?
Nos tempos de hoje, São Nicolau apenas volta à Terra na época do Advento. Mas, já houve um tempo, uns mil anos atrás, em que São Nicolau vivia o ano todo entre as pessoas na Terra. Já naquela época sua mais importante tarefa era ajudar os homens e lhes proporcionar alegria. Naquele tempo, Nicolau era bispo de Myra, uma cidade muito distante daqui, no Oriente.
Da vida de São Nicolau pouco se sabe. Porém, algumas de suas ações estão sendo transmitidas durante todos esses séculos, demonstrando a bondade e a força desse homem maravilhoso. Uma dessas lendas contaremos aqui. É a do

MILAGRE DO PÃO

Após um abençoado período de muitos anos, em que o bispo Nicolau veio atuando em sua cidade, irromperam tempos difíceis. Por longos meses faltou chuva. Mas os poços fundos estavam cheios e havia alimento suficiente, do qual vivia o povo de Myra. Continuou, porém, a seca, a safra era magra, e o pão tornou-se escasso e os ventos que costumavam trazer chuva cessaram; a água nos poços estava acabando.
Os pobres começaram a passar fome e sede, e logo mais a miséria atingiu também os ricos. Enfim, não havia sobrado nenhum bocadinho de pão e, nos poços, permaneceram apenas poças de água podre. O trigo secou antes de formar a espiga, os homens comiam bichos de que em outros tempos tinham nojo. Toda manhã eles lambiam as gotinhas do orvalho acumulado nas folhas das plantas. Era uma época de calamidade.
O prefeito se via incapaz de solucionar tanta miséria. Os comerciantes, que haviam sido enviados a cidades amigas, voltaram com carroças vazias, pois em todos os lugares reinava situação idêntica. Porém, do outro lado do mar – disso as pessoas de Myra sabiam – havia trigo suficiente, pois diariamente se viam passar no horizonte longas filas de navios carregados até a borda com trigo. E os habitantes famintos de Myra aglomeraram-se na praia, olhando mar afora, onde os navios passavam com o trigo, sem que pudessem alcançá-los.
Diante deles havia a água do mar, que eles não podiam beber, por ser salgada como seu suor e suas lágrimas.
Em seu desespero, surgiram maus pensamentos. Várias vezes eles disseram aos pescadores: “Por que não ides lá fora com vossos barcos e conduzis um navio para dentro do nosso porto?” Todos, porém sabiam que era impossível executar tal plano, uma vez que os navios traziam consigo soldados para sua proteção.
Outros disseram aos comerciantes: “Por que não viajais às terras de trigo, onde tudo cresce em abundância? Pegai, aqui todo o nosso dinheiro.” Porém havia semanas que não soprava vento algum, e os homens estavam enfraquecidos demais pela fome para que estivessem em condições físicas de manejar os remos em alto mar. E essa viagem teria sido em vão, pois já no ano anterior, no início dessa calamidade, comerciantes de Myra haviam viajado à terra do trigo. Foram, porém, rejeitados, porque o poderoso imperador de Roma havia ordenado que todo o trigo fosse enviado a Roma. Assim, toda esperança foi em vão.
Dia após dia, os habitantes famintos de Myra iam à praia. Levantavam as mãos magras ao céu e suplicavam salvação. Continuaram a esperar ajuda do mar, pois o bispo Nicolau, o homem em que mais confiavam lhes havia prometido: “Deus não vos abandonou. Vossa salvação virá do mar”.
No entanto, nenhum sinal de esperança, e a fome e a sede pioravam dia a dia. “Deus se esqueceu de nós”, diziam os habitantes de Myra. “Que foi que fizemos de mal?” – “Por que Ele não nos ama?” – “O Deus, de quem Nicolau nos fala, se esqueceu de nós. Ele não tem misericórdia”.
Uma noite, levantou-se uma horrível tempestade e se aproximaram do mar nuvens negras. Os habitantes de Myra pensaram que fosse o fim do mundo. Refugiaram-se suas casas, apavorados. Nessa noite, no entanto, tiveram sonhos maravilhosos.
Quando raiou o dia, a tempestade ainda não havia cessado de todo, mas um aroma maravilhoso pairou sobre a terra. Todos saíram para fora de suas casas e levantaram as mãos ao céu e se abraçaram. Havia chovido. Os habitantes de Myra mataram sua sede e refrescaram seu corpo. Porém, a alegria passou logo depois, pois a fome continuou doendo como antes.
Nisto, veio um grito do porto: “Pão, pão”. E ecoou pela cidade toda. Apesar de ninguém acreditar mais no boato, todos correram rua abaixo em direção ao porto. Viram então três navios ancorados; três navios cheios de trigo. O povo aglomerou-se na praia e suplicou:
“ Daí-nos um pouco de trigo, o suficiente para fazer um pão para cada um de nós”.
As mães levantaram as criancinhas chorando e magras para que os corações dos marinheiros se emocionassem. E os homens ofereceram muito dinheiro por pouco trigo.

Porém, todas as súplicas e negociações e até ameaças eram inúteis. Nada havia tocado os corações dos soldados, que defenderam a carga dos navios com suas armas. A situação era desesperadora.

Nicolau havia prometido: “Vossa salvação viera do mar”. Essa promessa não foi cumprida. Apesar de o trigo se encontrar tão perto que seu cheiro se fez sentir, não havia nenhuma esperança de pão. A situação dos habitantes de Myra era pior do que antes. Aglomeraram-se na praia, não saindo do lugar, cheios de ódio e desespero.

Foi então que Nicolau se juntou às pessoas no porto. Imediatamente, todos silenciaram. Abriram passagem para Nicolau em direção aos navios. Nicolau ficou um passo à frende de todos e cumprimentou os marinheiros: “Vede estas pessoas famintas. Um duro golpe do destino nos atingiu. Daí, pelo amor de Deus, um pouco de vossa fartura a estes coitados. E não vos arrependereis de vosso nobre gesto”.

Em resposta, o capitão respondeu: “Senhor, nós também temos mulheres e crianças. Entendemos vossa situação e gostaríamos de vos ceder parte de nosso trigo, mas vede: todos os sacos são contados, e castigos horríveis nos esperam se faltar um único saco de trigo. Todos temem a severidade do Imperador.

Nicolau deu mais um passo à frente. Olhou firmemente o capitão e levantou a mão: “Pois eu vos digo: daí a estes coitados um saco de trigo de cada navio, e não vos faltará um único grão quando vos encontrardes com os guardas do Imperador”.

Os homens dos navios, sentindo a força de sua voz e de su olhar, cederam ao gesto imperativo de sua mão.

De cada um dos três navios carregaram um saco de trigo e os colocaram diante de Nicolau. A tempestade havia cedido; soprava um vento favorável, e logo os navios deixaram o porto de Myra.
Os habitantes de Myra olharam para Nicolau. Este estava na praia diante de 3 sacos de trigo. Com um gesto largo e seguro, ele distribuiu milhares de punhados de trigo. A cada mulher de longa fila entregou pessoalmente sua parte e recomendou: “ Leva estes grãos para casa com cuidado. Irão satisfazer vossa fome”. Cada mulher se abaixou diante do bispo Nicolau e lhe estendeu suas mãos. E o trigo caiu nas mãos abertas das mulheres, agradavelmente fresco e dourado e estranhamente pesado. E as mulheres o levaram para casa como se fosse um grande tesouro. Homens e crianças seguiram atrás. Pegaram água da chuva moeram o trigo com todo o cuidado. As mulheres prepararam a massa que deu para um único pão do tamanho de um punho fechado. Cada mãe pôs o seu pão no forno para assar, e a família esperou à sua volta, faminta e impaciente.
Após alguns minutos, notou-se um aroma delicioso. É que a massa do pão já estava crescendo. Era tão delicioso esse aroma que a cada instante abriam o forno para ver o pão crescer. E, a cada vez, o pão se havia tornado maior. E quando, por fim, estava assado, mal conseguiram tirar o pão do forno, de tão enorme e paesado que havia ficado.
Nas casas, começou uma alegre e festiva refeição; todos ficaram satisfeitos, e as criancinhas ainda receberam um mingau de trigo de São Nicolau, o qual era maravilhosamente doce sem conter açúcar, e não diminuía, apesar das crianças terem comido depois de tanta miséria.
Os fazendeiros, no entanto, não moeram o trigo. Levaram-no para o campo e, à medida que faziam o largo gesto de semear, suas mãos se enchiam incessantemente de grãos.
Ninguém ficou admirado ao saber que os marinheiros não deram pela falta de nenhum saco de trigo quando chegaram a Roma. Eles sentiram tal como os habitantes de Myra, a atuação da força maravilhosa de Nicolau em tudo o que ele fez. E ficaram felizes por terem testemunhado esses fatos.
Muitos dos que conviveram com Nicolau perceberam que ele possuía um poder misterioso, que dava às pessoas a força de compartilhar, e dessa maneira se fazia sentir a sua imensa bondade. As crianças a vêm sentindo até hoje, quando na época do Advento encontram tantas botas e tigelas cheias de maravilhosos presentes.
É assim que seu interminável amor, através de muitos séculos, continua atuando como naquela manhã em Myra.