Textos de Rudolf Steiner

A Última Alocução

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Rudolf Steiner

28/09/24 – GA 238


Foi impossível, para mim falar para vocês ontem e anteontem. Mas não queria deixar passar, hoje, o espírito sagrado de Micael que deve irradiar nos nossos corações, nas nossas almas para amanhã, não quis deixar passar sem falar, ainda que brevemente a vocês, meus queridos amigos.

O fato de poder fazê-lo só foi possível graças aos cuidados  e dedicação da amiga médica, a Dra. Ita Wegman. Assim espero estar hoje em condição de dizer o que, com gosto desejaria falar sobre a qualidade desta festa.

Ultimamente, meus queridos amigos, falamos muito do fluir da força de Michael no acontecer, no acontecer espiritual dos homens na terra. E pertencerá às mais belas conquistas da interpretação antroposófica dos sinais do tempo, quando estivermos, em algum momento, na condição de acrescentar às outras festas do ano as festas de Micael corretamente celebradas. Mas isso só será possível quando o grandioso pensamento de Micael, que hoje só é sentido, só é pressentido, quando o grandioso deste pensamento de Micael tiver passado para um número de almas que poderão então formar o ponto de partida humano adequado para o espírito desta festa.

Atualmente podemos gerar, por assim dizer, o espírito de Micael em torno da época de Micael, enquanto nos entregamos a pensamentos preparatórios para uma futura época da festa de Micael da humanidade. E esses pensamentos preparatórios se tornam, em nós  totalmente ativos quando dirigimos o olhar aquilo que vimos agir, desde tempos tão distantes, parte na Terra, parte nos mundos supra – sensíveis, para preparar o que pode ser realizado no decorrer deste século para a evolução da humanidade, por aquelas almas que, na realidade, no espírito correto, se sentem, atraídas pela corrente de Micael.

Vocês, meus caros amigos, quando acolhem honestamente o movimento antroposófico, pertencem a estas almas – tornar isto compreensível foi justamente o meu esforço nas últimas semanas e também naquelas considerações, especialmente as que eu mesma falei sobre o carma da Sociedade Antroposófica.

Podemos ainda apontar para algo – e queremos fazer isso justamente hoje – que nos traz perante a alma entidades que se relacionam intimamente, e que ainda se relacionarão sempre, com o que foi descrito aqui como a corrente de Micael, queremos dirigir o olhar às entidades que fazem uma grande impressão – pelo menos em duas encarnações sucessivas – numa grande parte da humanidade: entidades que para nós só se ligam numa unidade quando as reconhecemos como sendo a encarnação sucessiva de uma mesma entidade.

Quando dirigimos o olhar espiritual para épocas antigas, vemos surgir perante nós, dentro da tradição judaica, a natureza profética de Elias. Nós sabemos o significado que ela teve para o povo do Antigo Testamento, e através dele, para toda a humanidade, esta força do objetivo do profeta Elias. E indicamos como, ao longo do tempo, ele reapareceu em momentos importantes da evolução da humanidade, ou seja, a entidade que vivia em Elias reapareceu de tal forma que o próprio Cristo Jesus pode dar a iniciação que ela devia ter para a evolução da humanidade, como a entidade de Elias apareceu novamente em Lázaro – João, que são uma e a mesma figura, como vocês podem ver no meu “Cristianismo como Fato Místico”.

Vimos também que esta entidade reaparece naquele pintor cósmico que pode deixar pairar o seu desenvolvimento artístico justamente sobre o Mistério do Gólgota, de forma tão imensamente impressionante. E vemos como aquilo que em profundos impulsos cristãos, como o ser do próprio cristianismo que vivia, fluindo em Rafael expresso em cor e forma, reaparece no poeta Novalis, como a partir do poeta Novalis se revelava em maravilhosas palavras o mesmo que foi colocado em Rafael perante a humanidade, nas mais belas cores e formas. Vemos a sucessão de entidades que se integram numa unidade através do pensamento da encarnação.

Sabemos, pois com freqüência falamos destas coisas aqui, que o homem quando atravessa o portal da morte entra no mundo das estrelas, que aquilo que chamamos de estrelas num sentido físico é somente o sinal exterior para os correspondentes mundos espirituais que dali olham para baixo, para nós, mais que co-atuam nos fatos da evolução da humanidade.

Sabemos que o ser humano vivência a esfera da Lua, de Mercúrio, de Vênus, do Sol, de Marte, de Júpiter e de Saturno, para voltar a uma existência terrestre após ter elaborado seu carma com as entidades destas esferas e com aquelas almas que também estão nesta vida retirada.

Voltemos o olhar, deste ponto de vista para Rafael, como ele passou pelo portal da morte – como ele entra já na Terra com sua arte reluzente de estrelas, brilhante de estrelas – na esfera da evolução espiritual e nós percebemos o seguinte, meus queridos amigos: percebemos como Rafael entra em relacionamento, na esfera da Lua, com aqueles espíritos que vivem na esfera da Lua e que não são as individualidades espirituais dos mestres primordiais da Humanidade, cuja sabedoria inspirou profundamente Rafael enquanto (vivia como) Elias; vemos como ele experimentou essa sabedoria em comunhão com os seres da Lua e com todas as almas com as quais ele vivenciou antigos níveis da terra, vemos como ele se integra ali espiritualmente com toda a origem espiritual da terra, com todo o essencial que tornou possível a humanidade e a impregnação divina do terrestre; nós vemos, por assim dizer, Rafael tão intimamente entre os seus, unido aqueles com os quais esteve mais amorosamente unido na sua existência como Elias, porque estes foram os que, no início de existência da Terra deram a meta para esta vida da Terra.

Depois o vemos passar pela esfera de Mercúrio, onde ele configura, juntamente com os grandes terapeutas cósmicos, em sua espiritualidade, tudo o que o possibilitou criar na sua disposição algo tão sadio, algo infinitamente sadio na cor e traço. Tudo aquilo que ele colocou, que ele pintou nas telas ou nas paredes, para grande consolo, para o infinito entusiasmo de pessoas que pudessem compreendê-lo, que foi tão reluzente, tão brilhante de luz, tudo isso se mostrou para ele em toda a relação cósmica na qual se pode estar em função de sua passagem pelas entidades da esfera de Mercúrio.

E assim ele foi colocado na esfera de Vênus – ele, que na Terra desenvolveu um tal amor pela cor e pelo traço - , que amorosamente o levou aquela existência no Sol, que viveu nas suas encarnações conhecidas até agora, para a existência no Sol, através da qual ele, enquanto profeta Elias, trouxe para a humanidade as grandes verdades que apontam para a sua meta, através de seu povo.

Vemos como ele consegue viver na esfera do Sol, agora de forma diferente da vez que foi companheiro do Cristo – Jesus na Terra, e intimamente outra vez aquilo que experimentou quando se transformou de Lázaro em João, através da iniciação do Cristo – Jesus.

E vemos como eleve brilhar a transformação: cósmica do seu coração humano numa claridade reluzente do cosmo, aquilo que ele pintou numa luz tão brilhante para os fiéis de Cristo – Jesus.

E depois vemos como ele impregna com sabedoria na esfera de Júpiter aquilo que ele tinha como pano de fundo de sua vida, vemos como ele consegue resumir em sabedoria tanto com espíritos como Goethe, o futuro Goethe, como tais espíritos que estavam em caminhos mais ou menos errados, mas que levavam aquilo que é o ser do cosmo, o pensar do cosmo para o mágico, como ele aí tem a fundamentação do seu idealismo mágico na sua vivência da evolução do futuro Eliphas Levi. Vemos como ele participa de tudo o que viveu em Swedenborg.

E existe algo curioso, meus queridos amigos, algo profundamente significativo: uma personalidade totalmente voltada a Rafael, que foi Herman Grimm, fez quatro tentativas de escrever a vida de Rafael. Nunca conseguiu mostrar realmente a vida terrena de Rafael de forma a ficar satisfeito com sua descrição – no entanto o conseguiu de forma tão bela para a vida de Michelangelo. Segundo sua própria opinião, o que ele, Herman Grimm, alcançou em relação à vida de Rafael foi algo imperfeito.

E assim apareceu seu primeiro livro sobre Rafael, que deveria ser uma biografia. Mas o que ele é? Traz uma reprodução das velhas anedotas de Vasari sobre Rafael. Não traz a biografia, mas algo totalmente diferente: uma imagem daquilo que se tornou Rafael aqui na terra somente após sua morte, na veneração, no reconhecimento, na compreensão das pessoas. Herman Grimm conta aquilo que pensaram as pessoas sobre Rafael no decorrer dos séculos, o que pensaram os franceses, os alemães sobre ele. Ele encontra a entrada para o que ficou de Rafael na memória dos homens, na veneração dos homens, não encontra a possibilidade de descrever a vida terrestre de Rafael.

Após tentar quatro vezes ele diz o que se pode enquanto indivíduo descrever de Rafael é relatar como uma imagem sucede a outra, como se fosse pintada por uma entidade supra – sensível que, na realidade, não teria tocado a Terra com sua vida terrestre. Os quadros estão aí, e pode-se prescindir totalmente do Rafael que pintou os quadros ao reproduzir a sucessão do que se expressa no conteúdo interior dos próprios quadros.

Assim Herman Grimm ao falar novamente sobre Rafael pouco antes de sua morte, faz novamente a tentativa de escrever, relatando somente sobre os quadros, não sobre a sua personalidade terrestre.

Esta personalidade terrestre de Rafael estava totalmente envolvida, totalmente só por aquilo, meus queridos amigos, que Lázaro – João deu a esta alma para que fluísse em cores e traços para a humanidade.

E assim viveu este ser! Viveu de tal forma que, num certo sentido, pode absorver esta vida de Rafael novamente num período de vida de trinta anos em Novalis. Vemos Rafael morrer jovem. Novalis morrer jovem – uma entidade  que emergiu de Elias – João se apresentando em duas formas diferentes para a humanidade, preparando assim em forma artística, poética o espírito de Micael, enviada como um embaixador da corrente de Micael para os homens na Terra.

E então vemos surgir a grande arte de Rafael na poesia de Novalis que fala tão profundamente ao coração. Tudo que olhos humanos olharam através de Rafael, tudo isso se impregnou nos corações humanos quando reapareceu em Novalis.

Quando observamos Novalis... como ressoa a vida de Rafael percebida por Herman Grimm neste Novalis! Sua amada morre muito jovem. Ele próprio ainda é jovem. Que vida ele quer ter na Terra com ela morta? Ele mesmo o expressa: sua vida na Terra deve consistir em morrer atrás dela. Ele já quer passar para o supra–sensível, quer novamente levar a vida de Rafael, não tocar na Terra, mas vive na poesia do seu idealismo mágico, na medida em que não quis ser tocado pela vida terrestre.

Quando deixamos agir sobre nós o que ele derramou em fragmentos, vemos que isso age tão profundamente, porque tudo o que se tem na realidade sensível imediata, tudo o que os olhos podem ver e sentir como tão belo na terra, aparece na poesia de Novalis através do que vive em sua alma como idealismo mágico, num brilho poético quase celestial. Ele sabe deixar ressurgir em seu brilho de luz espiritual o mais insignificante do material através do idealismo mágico poético.

Justamente em Novalis vemos um precursor brilhante da corrente de Micael, meus queridos amigos, que deve conduzir todos vocês – agora enquanto vivem e depois, quando tiverem passado pelo portal da morte. Vocês encontrarão todos aqueles e também o Ser do qual lhes falei hoje, no mundo espiritual supra-sensível; encontrarão todos aqueles com os quais devem agora preparar a obra que deve acontecer no final deste século e que deve guiar a humanidade além da grande crise na qual ela está submersa.

Só então, quando esta obra, esta enorme, colossal impregnação com a força de Micael, com a vontade de Micael – que não é senão o que vai adiante da vontade do Cristo, adiante da força do Cristo - a fim de plantar esta força do Cristo da forma correta na terra – só então – se esta força de Micael triunfar sobre o demoníaco – draconiano que vocês conhecem bem, se vocês todos que incorporaram na luz desta maneira o pensamento de Micael, com lealdade no coração e com íntimo amor o receberam e conservarem, se vocês tentam tomar este espírito sagrado de Micael deste ano como ponto de partida para aquilo que este pensamento de Micael pode com toda a sua potência, com toda a sua força não só revelar na alma, mas tornar vivo em todos os vossos atos – então vocês serão servidores leais deste pensamento de Micael, então vocês podem se tornar nobres ajudantes do que no sentido de Micael deve se fazer valer através da Antroposofia na evolução da Terra.

Se em 4 vezes 12 pessoas pelo menos, nos próximos tempos, o pensamento de Micael se tornar realmente vivo, em 4 vezes 12 pessoas reconhecidas não através de si mesmas, mas através da direção do Goetheanum em Dornach, puderem ser reconhecidas como tais, se em 4 vezes 12 pessoas surgirem líderes para o espírito da festa de Micael, então poderemos olhar para a luz que se expandirá na humanidade, no futuro, através da corrente de Micael e da atividade de Micael.

Isso é assim, meus queridos amigos, e para isso eu tentei me levantar, para falar pelo menos isso, em poucas palavras para vocês. Minhas forças hoje não permitem mais. Mas essas são as palavras que eu queria falar hoje para as suas almas; que vocês recebam este pensamento de Micael, da forma em que o pode fazer um coração leal a Micael, quando ele aparece vestido na roupagem irradiante de luz do Sol, que inicialmente indica e aponta para o que deve acontecer para que esta roupagem de Micael, esta roupagem de luz possa se tornar palavras do Cosmo, que são palavras do Cristo, que são palavras do Cosmo, que podem transformar os Logos do Cosmo em Logos da humanidade. Por isso são as seguintes as minhas palavras para vocês hoje:

Dos poderes do Sol nascidos,
Esplendorosos poderes do espírito que agraciais os mundos;
À radiante veste de Micael estais predestinados
Pelo pensar dos Deuses.

Ele, o mensageiro de Cristo,
Mostra em vós sagrado querer cósmico sustentador de homens;
Vós, claros seres do éter cósmico
Trazei o verbo do Cristo ao homem.

Assim aparece o anunciador do Cristo
Às almas ansiantes e sedentas:
Para elas irradia vosso Verbo – Luz
No tempo do Homem – Espírito.

Vós, discípulos do conhecimento do espírito,
Recebei de Micael o sábio acenar;
Recebei o Verbo – Amor do querer cósmico
Atuante nas metas sublime das almas.

 

(Tradução: Bernardo Kaliks)

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