Textos Comunidade de Cristãos

Mestre dos Ritmos da Vida (Pastor Marcos Piedade - São Paulo)

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A cada Domingo de Páscoa, quando comemoramos o feito da ressurreição do Cristo, podemos perceber um certo movimento  por ser esse dia um Domingo após a lua cheia e após o início do outono no hemisfério sul. Para muitos de nós, porém, aqui termina o que compreendemos como época da Páscoa. Parece ser uma data como outra qualquer do ano cristão. Ora, a importância da Páscoa vai muito além disso.

“Depois de ter ressuscitado no primeiro dia da semana...” Essa é uma frase comum que encontramos nos evangelhos. Há algo novo a ser compreendido aqui. O Domingo, “Dia do Senhor”, é o primeiro dia da semana. E é um dia de “descanso”! Algo mudou já na ressurreição, e é explicitamente descrito nos evangelhos - e não é uma tradição antiquada. Tradição seria “descansar” no último dia da semana, e não no primeiro. O cristianismo, ao fundamentar-se na ressurreição, e não em teorias morais abstratas, fundamenta-se na vida, isto é, em viver segundo o ritmo de vida do Cristo.

O cristianismo pode ser reconhecido por ser uma religião fundamentada em um “novo ritmo de vida”. Depois da ressurreição, o Cristo “vive” no meio dos seus discípulos. Durante quarenta dias, torna-se o “mestre dos ritmos da vida” no meio deles. É assim que podemos compreender os acontecimentos da Páscoa. Há um exemplo clássico, no evangelho de Lucas, no capitulo 24, versículos 13 a 35. Nela, dois discípulos encontram-se a caminho, e junta-se a eles um terceiro caminhante, que lhes explica o que acontecera em Jerusalém nos últimos dias (a morte e a ressurreição do Cristo). Chegando a casa, o terceiro caminhante quer seguir em frente. Os outros insistem que ele entre e “quebre” o pão com eles. Ao consumar-se a consagração do pão, a sua “quebra”, os discípulos o reconhecem como o ressurreto. As palavras são claras: “Então seus olhos se abriram, e o reconheceram!” E ainda lembraram-se os discípulos: “Não ardia nosso coração quando ele nos falava?”

Por isso, para dar sentido à Páscoa, é necessário “insistir” em um ritmo. A Páscoa dura quarenta dias, ou se queremos, seis domingos, mais os dias entre eles. É um ritmo de vida dentro do ano cristão, formando um todo que é o próprio ritmo em que caminha o ressurreto na terra. A terra responde a esse ritmo, pois ela vive dessas forças de vida do ressurreto.

A humanidade ainda tem os olhos fechados para isso. Não percebe a presença do caminhante invisível ao seu lado, o calor e a vida que emanam dele. Discutir a respeito das “verdades” do cristianismo só nos leva mais longe do verdadeiro cristianismo. Isso é claro na decadência da história ocidental. O cristianismo é vida, e vida nova, que se fundamenta no ritmo de vida do próprio ressurreto, que tem poder sobre a Morte.

(Pastor Marcos Piedade, Comunidade de Cristãos de São Paulo)

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