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Histórias

A Harpa Eterna (pastor Günther Kollert)

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(Tradução de Rosa Maria Bucht-Schmidt do conto “Die ewige Harfe” por Günther Kollert do caderno mensal da Comunidade de Cristãos da Alemanha)


Há muitos anos atrás, vivia na Irlanda um jovem cantor chamado Angus. Ele herdara de seu pai uma harpa, e, como ela, não havia outra igual. Uma de suas cordas era de ouro, de um poder milagroso: se os dedos de Angus deslizassem sobre elas, surgia um tom dourado na melodia, como a luz do sol da manhã, que desde tempos impensáveis corria a infinita amplidão do oceano até a costa da ilha.
Por isso, o povo irlandês amava o trovador Angus como um tesouro confiado a eles dos céus. Seu tocar e seu canto traziam calor e luz à vida deles, como em todos os tempos.
Certa vez, a ilha foi visitada por guerreiros selvagens, que vinham do norte navegando navios vikings, com o intuito de espalharem morte e pavor. Os reis da Irlanda reuniram os mais hábeis homens e jovens guerreiros para combater o inimigo, embora soubessem que apenas um milagre poderia salvá-los.
E assim aconteceu: no dia da batalha, Angus permaneceu no topo de uma montanha atento à chegada deles, com a harpa em suas mãos. Seu olhar profético contemplava como os espíritos da obscuridade vociferavam em torno do exército inimigo, e isto ele percebia ressoando no ar.
Ele tocou levemente as cordas, e, imediatamente soou, o tom dourado nas ondas do seu canto.
Movidos por invencível poder, os demônios fugiram, e não passou muito tempo até que os irlandeses conseguiram a vitória no campo de batalha. Entretanto, o príncipe das trevas conseguiu resistir até o fim. Em fúria, ele caiu sobre Angus, e com suas garras rompeu a corda de ouro da harpa.
Desde então, seu cantar não era mais como antes. Toda vez que ele deslizava seus dedos sobre o lugar, agora vago da corda de ouro, um tom de queixa era perceptível, na qual uma infinita melancolia e aflição se perdiam. O coração do trovador estava mergulhando na mais profunda tristeza. Finalmente, nem ele e nem seu povo podiam mais suportar a perda daquilo que para eles era o mais precioso.
Então, numa noite de tempestade, ele subiu num penhasco; lá, bem embaixo ouviam-se as ondas, que, vindas do sem fim quebravam furiosamente nas pedras. Para o fundo do despenhadeiro, arremessou sua harpa. E enquanto lágrimas lhe caíam dos olhos, aquela afundava no oceano, como uma fagulha na longínqua noite, se extinguia.
Mas, nesse mesmo instante, ele viu uma imagem nunca d’antes vista: da escuridão, através da ressaca do mar, aproximou-se, em sublime quietude, um barco iluminado, no qual uma resplandecente figura segurava uma harpa; com uma voz suave e determinada ao mesmo tempo, tornou-se perceptível, e falou:
“Angus, você me conhece?”
“sim meu rei, você é Tirnam-Og, o rei dos elementos”.
“Você pode reparar sua harpa novamente. Siga-me na amplidão do oceano, reúna lá os primeiros raios da manhã, aqueles que tocam virginalmente a água, e teça desse ouro uma nova corda para sua harpa. Depois de milhares de anos ela tornar-se-á o que fora no início, e, então, também não terá mais nenhum poder sobre sua melodia”.
Angus deu a mão à aquele que a sua lhe estendia e subiu no barco...
 
 
(texto extraído da Revista Nós, Época de São João 2005, Escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo)