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Hino a São João (Meca Vargas)

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                Desde os tempos remotos, a música e criação da humanidade com intuito de comunicar-se com poderes superiores acalmando a sua força, de harmonizar e purificar as almas, de expressar sentimentos de alegria e sofrimento e promover um intenso contato social entre os homens pelos ritos e festas do ano.

                Enquanto a música consistiu apenas de uma linha melódica única, não houve necessidade de registrá-la e o repertório era transmitido de pais para filhos. Desse modo, a humanidade manteve viva os seus cantos e danças e com eles seus valores.

Foi a propagação da religião cristã que provocou o desenvolvimento da notação musical, pois quando o Imperador Teodósio proclamou o Cristianismo como religião oficial do Império Romano no ano de 391 d.C., a música litúrgica foi incorporando elementos de origem tradicional sagrados e profanos de todos os lugares onde se expandia.

O papa São Gregório, o Grande, ajudou a reunir uma intensa colação da primeira musica litúrgica em 600 d.C. e determinou que fossem sistematizadas as variações do modo musical. Identificou-as, utilizando-se das letras do alfabeto e deu-lhes o nome a partir de designações gregas antigas. Como era então a profissão de músico? Um rapaz musicalmente dotado esperaria por uma carreira, primeiro como corista. Se fosse descoberto, receberia educação esmerada em todos os domínios, principalmente na música. Era sua única oportunidade de tornar-se músico profissional. Muitas vezes para prolongar sua carreira, fazia-se monge, ou professor. Assim foi com o monge Guido D’Arezzo, em Toscana, encarregado do coro da escola por volta de 1030.

Conhecendo bem os processos musicais, sendo músico inventivo e excelente professor, Guido concebeu um sistema para aprender música de ouvido, com um guia visual, a mão. Descobriu o maravilhoso Hino a São João, escrito por Paulo Diacono, que tinha no início se cada estrofe os nomes das notas que hoje conhecemos; DO, RÉ, MI, FÁ, SOL, LA, SI, adaptou-lhe então uma melodia que seguia a escala musical fixando-a na forma da mão humana.

Cada articulação da mão de Guido foi associada a um intervalo da escala de tal modo que os meninos do coro de Arezzo sabiam exatamente qual nota deviam cantar. O Manosolfa ou Solfejo, como ficou conhecido esse sistema, foi rapidamente adotado pelos estudantes de canto para a memorização dos exercícios vocais. Guido D’Arezzo também escreveu bastante acerca do novo sistema de notação, usando uma pauta com várias linhas e deu início ao desenvolvimento da escrita e leitura musical em composições mais elaboradas. Eis o Hino a São João Batista no original e sua tradução:

 (do) UT queant laxis   -    Para que possam

(re) REsonare fibris      -    Teus servos expandir

(mi) Mira gestórum      -     A largos pulmões

(fa) FAmulti tuorum     -     A maravilha de teus milagres,

(sol) SOLve polluti       -     Absolve do crime

(La) LAbii reatum        -     O lábio impuro

(si) Sancte Ioanne       -     Ó São João

 

Podemos considerar esse hino um marco no desenvolvimento da notação e da pedagogia de ensino da música, de maneira metódica e ordenada, no ocidente, além de expressar o mais singelo e profundo significado espiritual da Festa de São João: a purificação da lama e a união dos homens pelo fogo do entusiasmo da sua individualidade, diante do espírito. Essa é, em essência, atarefa da educação musical que nos tempos atuais devemos recriar sempre de novo em nossos filhos e alunos e que, a cada ano, cantos e danças, da música da nossa Festa de São João, com muita alegria.