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Histórias

Lua de São Jorge (Ruth Salles)

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Ruth Salles
(conversinha micaélica de uma avó em férias, em Ubatuba, há uns vinte anos, numa noite de luar)

- Vó, que é que você está vendo aí com esse binoclinho de nada?
-Aquele luão lá no céu. Olhe só que lindo, Kalu!
-È lindo, mesmo, Vozinha, mas sem binóculo
-Ah, mas é pelo binóculo que eu vejo São Jorge lutando com o dragão.
-Deixe eu ver!Deixe eu ver!
-Calma, primeiro o Tiago, que é pequenininho. Olhe Tiago!
-Vovó vê dagão, eu vejo quelho. Com duas olerinhas pontudas.
-Taí, vó, o Tiago viu um coelho de orelha pontuda. Essa é nova.
- È nova, mesmo, Alexis. No outro lado do mundo, toda gente vê na lua um homem com lanterna e cachorro. Nós aqui vemos são Jorge. Essa de ver coelho é novidade. Quer olhar no binóculo, Kalu?
-Hum... Sei lá. Não dá pra ver nada que você está dizendo...
-Olha só!Olha só! São Jorge acabou de dar uma estocada no dragão, e com uma espada cheia de luz. Veja lá, Alexiz!
-Vó, você tem cada uma...
-Ande, Alexis, veja alguma coisa! È só querer! Olhe só a língua do dragão com uma seta na ponta!
-Pôxa! È mesmo! E ele soltou fogo pelas ventas!
-Ai. Ai, será que São Jorge se queimou, Vó? Deixe eu ver.
-Queimou não, Kaluzinha, ele está vestido com a armadura do bem. A chama do Mal não queima. Ainda por cima a espada foi o arcanjo Micael que emprestou.
-E ele não tem medo?
-Que nada! A espada do arcanjo Micael dá uma vontade tão forte de lutar pelo bem, que o medo vai embora.
-Que nem eu, né vó, no dia em que eu quis porque quis subir no alto da árvore pra salvar o Fujão e você não deixou.
-Vovó num góta, Àlequis.
È isso mesmo, Tiago, Vovó não gosta. Maluquice tem hora.
-Só que o Vô deixou e me ajudou, e eu não tive medo. Subi e peguei o gato.
-Também... Gato com esse nome só pode dar nisso... Ei, vozinha! Agora eu estou vendo!
-Vendo o quê Kalu?
-São Jorge está de pé, e o dragão com a cabeça levantada. Eu vi!
-Quero olhar, quero olhar, Kalu. È minha vez!
-Espera aí Alexis, o Thiago também quer.
-È o quellho de olerinha lá, que eu to vendo. Toma, Aléquis.
-A luta está terrível, vó. O dragão caiu de costas, a cauda dele virou e abriu uma cratera na lua. E depois?
-È... São Jorge continua firme, com a espada do arcanjo Micael. Sempre enfrentando e vencendo o dragão lá na lua.
-Pelo menos para nós né; Vozinha?
-E vamos ficar sempre torcendo por ele, Vó! Dá-lhe, São Jorge!
-Pois é, queridos, podíamos até cantar como Caetano:
“Lua de São Jorge,
“Lua brasileira...”
-Eu quelo uma espada de madela pá bincá de São Zoze!
-Ué Tiago, e o coelho?
-Tá lá ispiando a luta e cavando cenolinha pá São Zoze cume!
-Vamos sair nós quatro pela rua cantando, vó?
-Vamos lá! Mas chame o Vovô pra ir também.
-Vôôô!!
“Lua de São Jorge,
Lua deslumbrante,
Azul verdejante,
Cauda de pavão.”
“Lua de São Zo-ze,
Lua basilê-lá
Lua do meu co-la-ção!”


(extraído da Revista Nós época de Micael 2004 – EWRS)